quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Biografia filosófica: Bertrand Russell

É com felicidade e satisfação que hoje publico, como primeiro post de uma série de biografias filosóficas, sobre um dos maiores pensadores do século XX; Bertrand Arthur William Russell ou mais comumente conhecido, Bertrand Russell. Não irei apresentar aqui a biografia de vida dele - que é uma história de vida digna de poucas pessoas -, darei ênfase à biografia filosófica – por mais que sua vida se confunde muito com sua filosofia.

O fascínio que Russell exerceu sobre o público dependeu de numerosos fatores. Para além da sua longevidade, há muitas outras facetas que o tornam único. Grande matemático e filósofo, apóstolo da paz e discutida figura política, Bertrand Russel alcançou um enorme prestígio mundial. Era o nonagenário que cativava os mais novos e inspirava os mais velhos; o aristocrata que desprezava a Câmara dos Lordes e se arriscava a ser preso; o anarquista por temperamento que desafiava o poder constituído; o ateu que traçou armas contra o dogma religioso e a moral convencional; o matemático e lógico cujas equações destronaram Euclides; o filósofo que procurou tornar a filosofia acessível aos leigos; finalmente, o galardoado com o Prêmio Nobel da Literatura, cuja elegância de estilo, agudeza de ironia e destreza mental remontam a uma época em que se cultivava a arte de conversar e de escrever cartas.

Para milhões de pessoas, Bertrand Russell é uma espécie de profeta da vida racional. Sua voz sempre possuiu autoridade moral. Seus livros até hoje são lidos por todo tipo de pessoas; dos grandes filósofos contemporâneos até estudantes colegiais. Passou a vida lutando em pro daquilo em que acreditava: A liberdade e a felicidade da vida. E para essa empreitada, ele utilizou a racionalidade científica para mostrar que somente a dúvida cética é capaz de dá ao homem o caminho para se livrar dos dogmas religiosos e sociais; quando perguntado por sua posição religiosa, ele sempre se considerou agnóstico. Seus livros são leitura obrigatória para todos aqueles que buscam uma vida racional; para os ateus, céticos e agnósticos, ele é um exemplo de que podemos viver uma vida virtuosa usando apenas a racionalidade baseada na ciência como força reguladora de nossas decisões; para os religiosos, ele é uma fonte de questionamentos em que nunca poderão ser desprezados.

Sou suspeito em dizer, mas creio que se todos passassem pelo crivo filosófico de Russell – não ouso dizer que o mundo se beneficiaria – mas afirmo que uma grande parcela da humanidade se beneficiaria e muito.


Resumo filosófico:

· Religião => Como um grande cético e defensor do conhecimento, Russell via as religiões como uma forma de estagnação do conhecimento, e como consequência imediata, foi um dos maiores críticos das religiões. Para ele, o medo da natureza é a origem do dogma religioso, e que somente o ceticismo em nossas escolhas seria uma boa solução para superar o dogmatismo. Com a mesma força que ele repudia a fé religiosa, ele acreditava no ser humano, acima de todas as coisas. Sua maior máxima filosófica sobre esse assunto é:Não é desejável acreditar em uma suposição quando não existe nenhum fundamento para supô-la verdadeira - Ensaios Céticos

· Ética e Moralidade => A ética e moralidade na filosofia de Russell, assumem um papel muito importante em sua empreitada de querer mostrar um caminho para a felicidade. Assim, são tão exaustivamente - mas não cansativo - comentadas em muitos de seus livros. Ele afirma que a ética é subjetiva, não contendo afirmações verdadeiras ou falsas. Defende, porém, que o ser humano deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou o equilíbrio; também que é o medo o pai da Moral e que a moralidade é uma mistura de utilitarismo e superstição; e que muitas das ações reprovadas pela moralidade religiosa causam mais mal do que bem, não só para aqueles que as seguem, mas também, para todos em si. Eis um trecho que ele aborda esse assunto: Se um homem pretende beber e ao mesmo tempo estar apto para o trabalho no dia seguinte. Julgamo-lo imoral se ele adota o rumo que lhe proporciona a menor satisfação do seu desejo (...) está claro que o código moral de qualquer comunidade não é definitivo nem auto-suficiente, mas deve ser examinado com vistas a descobrir-se se é tal qual o que a sabedoria e a benevolência teriam decretado. Nem sempre os códigos morais foram impecáveis (...) as normas morais não deveriam ser tais que tornassem impossível a felicidade instintiva (nessa última parte ele comentava sobre a liberdade sexual) - No que acredito.

· Ciência => A visão de Russell sobre a ciência estava cercada por um conflito não resolvido; Da mesma forma que ele via a ciência como a principal esperança para a humanidade – a ciência era encarnação da racionalidade na prática, e a propagação do ponto de vista científico tornaria a humanidade mais razoável – ele sabia que a ciência não poderia tornar a humanidade mais racional, pois a própria ciência é produto de crenças irracionais. Fica então evidente que a ciência para ele era apenas um instrumento para melhoria de vida, desde que saibamos usar. Uma passagem em que ele expressa muito bem a visão que tinha sobre como devemos agir frente aos dogmas religiosos: É evidente que um homem provido de uma perspectiva científica não pode deixar intimidar pelos textos das Escrituras ou pelos ensinamentos das igrejas. Não lhe satisfará dizer "esse ou aquele ato constitui pecado, e isso encerra a questão". Investigará se tal ato verdadeiramente acarreta algum mal, ou se, pelo contrário, o que acarreta algum mal é crê-lo pecaminoso - Ibidem.

· Morte => Eis o que ele fala sobre o medo da morte: Acredito que quando morrer apodrecerei e nada do meu ego sobreviverá. Não sou jovem e amo a vida. Mas desdenharia estremecer de pavor diante do pensamento da aniquilação. A felicidade não deixa de ser verdadeira porque deve necessariamente chegar a um fim; tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor por não serem eternos. Muitos homens preservam o orgulho ante o cadafalso; decerto o mesmo orgulho deveria nos ensinar a pensar verdadeiramente sobre o lugar do homem no mundo. Ainda que as janelas abertas da ciência a princípio nos façam tiritar, depois do tépido e confortável ambiente familiar de nossos mitos humanizadores tradicionais, ao fim o ar puro nos confere vitalidade, e ademais os grandes espaços têm seu próprio esplendor - Ibidem.


Seus livros mais conhecidos:

- No que acredito (o título é auto-explicativo)

- Ensaios Céticos (encontramos os mais belos ensaios sobre os mais diversos assuntos)

- Por que não sou cristão? (o título é auto-explicativo)

- História do pensamento ocidental (narra toda a linha de evolução da filosofia ocidental)

- O Elogio ao ócio (o título é auto-explicativo)

- A conquista da felicidade (o título é auto-explicativo)

- Ícaro (ele expõe seus medos e esperança sobre o futuro da ciência)

- Hipátia (fala em defesa das mulheres)

- Autobiografia de Bertrand Russell (em três volumes - o título é auto-explicativo)

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