Liquidificador de Idéias
Expor de modo aberto as múltiplas facetas de uma opinião.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
O Elogio da Loucura.
domingo, 24 de julho de 2011
A moralidade utilitária e a vida virtuosa.
Existe o eterno questionamento de que para as religiões a vida virtuosa é atingida ao seguir com louvor as premissas que elas tomam como sagradas. E já no ateísmo, a vida virtuosa pode ser atingida sem, é claro, a intervenção divina. Em ambos lados encontramos exemplos de vida de pessoas, mártires. Contudo, existe a ideia de que tanto uma pessoa religiosa quanto uma ateia podem ter uma vida virtuosa, pois, a religião não moldaria o caráter e muito menos a ausência dela e que a felicidade é o resultado daquilo que realizamos (o ato de realizar), e não pelo o que realizamos. Dessa forma, fica evidente que a moralidade que pretendo apresentar é invariante a crença.
A história nos mostra que houveram pessoas que estudaram as escrituras de suas religiões por anos a fio e não contribuíram em nada para sua sociedade; da mesma forma, conta-nos os relatos de que houveram pessoas que vilipendiaram as escrituras sagradas de seu povo e contribuíram majestosamente com a humanidade e, visse-versa. Imagino que haja um meio termo. Veja bem... Considero o utilitarismo a porta de entrada do processo de classificação do que seria bom ou ruim para nós: Se no outro dia tivermos que nos levantar cedo não seria uma boa conduta nossa ficarmos até tarde em frente ao computador – por mais que na maioria das vezes nós o façamos. Contudo, não nascemos com esse questionamento – por mais que, às vezes, ele se apresente naturalmente para algumas pessoas –, dessa forma, vejo que os primeiros anos da vida intelectual (seguindo essa visão de moralidade) devem ser empregados na classificação da utilidade desses tipos de normas e, se elas, após o devido exame, ainda mostrarem serem do bem-estar comum e não se afastarem demasiadamente da realização de sua vontade, então, às chances de que com elas você consiga uma vida virtuosa são grandes.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Para além do bem e do mal.
"Os 'stocks' de dinamite que foram usados para a construção da via - férrea de Gouthard ostentavam uma bandeira negra para anunciar um perigo de morte. É neste sentido muito preciso que nós falamos do novo livro do filósofo Nietzsche como sendo um livro perigoso. Mas este termo não contém a menor crítica ao autor e à sua obra, da mesma forma que essa bandeirola negra não estava lá para criticar o explosivo. Longe de nós ainda a idéia de entregar o pensador solitário aos corvos e rãs da pia batismal, atraindo atenção para o caráter perigoso do seu livro. A dinamite, espiritual como material, pode servir a uma obra muito útil. Não é preciso usá-la com fins criminosos. Mas onde for colocado o 'stock' é melhor dizer claramente: Aqui há dinamite!... Nietzsche é o primeiro a conhecer um novo caminho, tão assustador que sentimos realmente medo quando o vemos seguir, solitário, essa senda até agora não trilhada!...
É com esse artigo que a publicação do "Para além do bem e do mal - PABM" é recebido pela crítica. Mas o que há nesse livro para ser tão temido? É que encontramos em cada uma de suas páginas, uma nova interpretação para a vida e o mundo, uma visão ímpar que fora deixada despercebida pelos grandes filósofos da história. Na medida em que o folheamos, somos apresentados a filosofia de Nietzsche - que foi um grande filósofo do século XIX, que exerceu e ainda exerce grande influência na filosofia.
Poucos são os livros em que neles encontramos algo de tão novo e ao mesmo tempo tão perigoso. Quando lemos um livro de filosofia, somos apresentados a visão do autor sobre certos temas – que pode ser a favor ou contra a nossa visão sobre o mesmo assunto; o que na maioria das vezes acontece quando terminamos de lê-los, é que passamos a ter argumentos, pró ou contra, os temas abordados no livro, portanto, ao deixarmos a leitura, ganhamos apenas argumentos a mais sobre nossas idéias que tínhamos antes da leitura; o que não acontece na leitura de PABM, pois, nesse livro somos apresentados a questionamentos que são anteriores as nossas noções mais primitivas das coisas.
“Para além do bem e o mal” foi escrito como uma espécie de complemento a outro livro dele – Assim falou Zaratustra. Muito diferente da linguagem que encontramos em seu “Zaratustra”, PABM está escrito em uma linguagem – embora tomado por um tom mais crítico e denso – é mais acessível aos leitores, se comparada com a linguagem encontrada no primeiro. Nietzsche considerou esses dois livros como sendo os seus livros mais importantes. Em uma carta a um amigo, ele comenta: Peço-lhe que leia este livro (se bem que ele diz as mesmas coisas que o meu Zaratustra, mas de uma forma diferente, muito diferente)...
Resumo da obra: É uma presunção muito grande de qualquer um em querer resumir uma obra filosófica – principalmente uma tomada por idéias tão “antagônicas” à nossa filosofia mais comumente conhecida. O título mostra o objetivo de Nietzsche: transcender o nosso modo de ser, buscando as mais elevadas realidades e a transvaloração todos os valores que até agora foram tomados como ídolos, fornecendo coragem aos homens em erigir novos valores, voltados para o florescimento e intensificação da vida humana. Até hoje, a filosofia e a humanidade vivem de acordo com a lógica - cartesiana ou aristotélica, tanto faz, ou enfim, de acordo com aquilo que chamamos de razão -, porém, a razão é somente um modo de considerar a existência e a realidade. Ainda a humanidade não transcendeu a razão. É o tema do livro. Quando ele fala em ir além "do bem e do mal", ele quer nos levar a considerar uma modalidade de consciência que observa o mundo sem dar sentido à coisa alguma e sem definir as coisas como boas ou más, mas, apreendendo-as tal como elas, para nós, se revelam diretamente. Ele fala de transcender os valores e não de transcender a razão, porque a razão e a lógica surgem do dar sentido e do criar significados e não o contrário. Assim, a razão está implícita dentro dos valores, ela é somente um valor, um "ídolo", um elemento dentro do universo dos valores. Todo o nosso modo de ser diante da humanidade começa a partir do momento em que criamos valores, ou seja, quando definimos e dizemos o que é bom e o que é mal. Daí surge tudo. Para transcendermos esse nosso modo de ser que nos limita, porque nos tornamos escravos dos conceitos que nós criamos, para sermos melhores e superiores, "para sermos nobres", é preciso que nós - inicialmente - criemos novos valores, novas definições do que é bem e mal, invertendo: o que antes era bom, agora é mau, e vice-versa. Mas isto é só inicialmente; a meta é chegar a ter consciência de que não existe o bem, nem existe o mal, mas, somente experiências e fenômenos.
Para aqueles que queiram se deliciar da leitura desse livro. Disponho aqui o livro em formato PDF.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Biografia filosófica: Bertrand Russell
É com felicidade e satisfação que hoje publico, como primeiro post de uma série de biografias filosóficas, sobre um dos maiores pensadores do século XX; Bertrand Arthur William Russell ou mais comumente conhecido, Bertrand Russell. Não irei apresentar aqui a biografia de vida dele - que é uma história de vida digna de poucas pessoas -, darei ênfase à biografia filosófica – por mais que sua vida se confunde muito com sua filosofia.
O fascínio que Russell exerceu sobre o público dependeu de numerosos fatores. Para além da sua longevidade, há muitas outras facetas que o tornam único. Grande matemático e filósofo, apóstolo da paz e discutida figura política, Bertrand Russel alcançou um enorme prestígio mundial. Era o nonagenário que cativava os mais novos e inspirava os mais velhos; o aristocrata que desprezava a Câmara dos Lordes e se arriscava a ser preso; o anarquista por temperamento que desafiava o poder constituído; o ateu que traçou armas contra o dogma religioso e a moral convencional; o matemático e lógico cujas equações destronaram Euclides; o filósofo que procurou tornar a filosofia acessível aos leigos; finalmente, o galardoado com o Prêmio Nobel da Literatura, cuja elegância de estilo, agudeza de ironia e destreza mental remontam a uma época em que se cultivava a arte de conversar e de escrever cartas.
Para milhões de pessoas, Bertrand Russell é uma espécie de profeta da vida racional. Sua voz sempre possuiu autoridade moral. Seus livros até hoje são lidos por todo tipo de pessoas; dos grandes filósofos contemporâneos até estudantes colegiais. Passou a vida lutando em pro daquilo em que acreditava: A liberdade e a felicidade da vida. E para essa empreitada, ele utilizou a racionalidade científica para mostrar que somente a dúvida cética é capaz de dá ao homem o caminho para se livrar dos dogmas religiosos e sociais; quando perguntado por sua posição religiosa, ele sempre se considerou agnóstico. Seus livros são leitura obrigatória para todos aqueles que buscam uma vida racional; para os ateus, céticos e agnósticos, ele é um exemplo de que podemos viver uma vida virtuosa usando apenas a racionalidade baseada na ciência como força reguladora de nossas decisões; para os religiosos, ele é uma fonte de questionamentos em que nunca poderão ser desprezados.
Sou suspeito em dizer, mas creio que se todos passassem pelo crivo filosófico de Russell – não ouso dizer que o mundo se beneficiaria – mas afirmo que uma grande parcela da humanidade se beneficiaria e muito.
Resumo filosófico:
· Religião => Como um grande cético e defensor do conhecimento, Russell via as religiões como uma forma de estagnação do conhecimento, e como consequência imediata, foi um dos maiores críticos das religiões. Para ele, o medo da natureza é a origem do dogma religioso, e que somente o ceticismo em nossas escolhas seria uma boa solução para superar o dogmatismo. Com a mesma força que ele repudia a fé religiosa, ele acreditava no ser humano, acima de todas as coisas. Sua maior máxima filosófica sobre esse assunto é:Não é desejável acreditar em uma suposição quando não existe nenhum fundamento para supô-la verdadeira - Ensaios Céticos
· Ética e Moralidade => A ética e moralidade na filosofia de Russell, assumem um papel muito importante em sua empreitada de querer mostrar um caminho para a felicidade. Assim, são tão exaustivamente - mas não cansativo - comentadas em muitos de seus livros. Ele afirma que a ética é subjetiva, não contendo afirmações verdadeiras ou falsas. Defende, porém, que o ser humano deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou o equilíbrio; também que é o medo o pai da Moral e que a moralidade é uma mistura de utilitarismo e superstição; e que muitas das ações reprovadas pela moralidade religiosa causam mais mal do que bem, não só para aqueles que as seguem, mas também, para todos em si. Eis um trecho que ele aborda esse assunto: Se um homem pretende beber e ao mesmo tempo estar apto para o trabalho no dia seguinte. Julgamo-lo imoral se ele adota o rumo que lhe proporciona a menor satisfação do seu desejo (...) está claro que o código moral de qualquer comunidade não é definitivo nem auto-suficiente, mas deve ser examinado com vistas a descobrir-se se é tal qual o que a sabedoria e a benevolência teriam decretado. Nem sempre os códigos morais foram impecáveis (...) as normas morais não deveriam ser tais que tornassem impossível a felicidade instintiva (nessa última parte ele comentava sobre a liberdade sexual) - No que acredito.
· Ciência => A visão de Russell sobre a ciência estava cercada por um conflito não resolvido; Da mesma forma que ele via a ciência como a principal esperança para a humanidade – a ciência era encarnação da racionalidade na prática, e a propagação do ponto de vista científico tornaria a humanidade mais razoável – ele sabia que a ciência não poderia tornar a humanidade mais racional, pois a própria ciência é produto de crenças irracionais. Fica então evidente que a ciência para ele era apenas um instrumento para melhoria de vida, desde que saibamos usar. Uma passagem em que ele expressa muito bem a visão que tinha sobre como devemos agir frente aos dogmas religiosos: É evidente que um homem provido de uma perspectiva científica não pode deixar intimidar pelos textos das Escrituras ou pelos ensinamentos das igrejas. Não lhe satisfará dizer "esse ou aquele ato constitui pecado, e isso encerra a questão". Investigará se tal ato verdadeiramente acarreta algum mal, ou se, pelo contrário, o que acarreta algum mal é crê-lo pecaminoso - Ibidem.
· Morte => Eis o que ele fala sobre o medo da morte: Acredito que quando morrer apodrecerei e nada do meu ego sobreviverá. Não sou jovem e amo a vida. Mas desdenharia estremecer de pavor diante do pensamento da aniquilação. A felicidade não deixa de ser verdadeira porque deve necessariamente chegar a um fim; tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor por não serem eternos. Muitos homens preservam o orgulho ante o cadafalso; decerto o mesmo orgulho deveria nos ensinar a pensar verdadeiramente sobre o lugar do homem no mundo. Ainda que as janelas abertas da ciência a princípio nos façam tiritar, depois do tépido e confortável ambiente familiar de nossos mitos humanizadores tradicionais, ao fim o ar puro nos confere vitalidade, e ademais os grandes espaços têm seu próprio esplendor - Ibidem.
Seus livros mais conhecidos:
- No que acredito (o título é auto-explicativo)
- Ensaios Céticos (encontramos os mais belos ensaios sobre os mais diversos assuntos)
- Por que não sou cristão? (o título é auto-explicativo)
- História do pensamento ocidental (narra toda a linha de evolução da filosofia ocidental)
- O Elogio ao ócio (o título é auto-explicativo)
- A conquista da felicidade (o título é auto-explicativo)
- Ícaro (ele expõe seus medos e esperança sobre o futuro da ciência)
- Hipátia (fala em defesa das mulheres)
- Autobiografia de Bertrand Russell (em três volumes - o título é auto-explicativo)
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Existem filósofos brasileiros?
Mais de quinhentos anos de história e será que em meio desse pouco tempo – pouco mesmo se comparado com os das outras potências que exportam e emprestam seus filósofos – tivemos tempo para produzir filosofia? É claro que sim, sem dúvida temos filósofos, mas onde então, estão escondidos os filósofos brasileiros?
Quando paramos para pensar sobre filósofos, isso é, quando temos tempo para pensar, vêm logo em nossa mente nomes como, por exemplo: Marx, Sartre, Foucault e Nietzsche. Lembramos até dos mais antigos como Sócrates, Aristóteles e Platão. Hoje é muito comum falarmos sobre esses grandes pensadores. O que é totalmente esperado, pois foram eles que nos deixaram grandes legados filosóficos.
É bem verdade que possuímos grandes pensadores na atualidade que talvez não sejam lembrados no ensino da filosofia, hora porque ainda estão vivos ou até mesmo porque sejam brasileiros. A filosofia não é muito diferente das outras ciências; uma das coisas que elas têm em comum é a de que seus maiores representantes foram lembrados após terem morrido. É como se não fosse possível ser um grande filósofo e está vivo ao mesmo tempo – o que nem sempre é uma verdade.
É o grande intervalo de tempo que nos separa dos filósofos que os tornam tão conhecidos, pois com isso, suas obras puderam ser lidas e estudadas exaustivamente. Assim, seria o curto tempo que nos separam dos representantes brasileiros, um dos grandes motivos que os encobre. Mas não é somente isso que torna os filósofos brasileiros desconhecidos, é porque muitos não colocam suas idéias em evidência. É muito mais fácil eles serem conhecidos na hora de traduzir um texto de algum grande pensador internacional, do que por algum trabalho que tenha publicado com seus próprios pensamentos. E se não fosse o bastante, eles ainda publicam livros explicando sobre a filosofia de outros pensadores. Isto é, a maioria dos filósofos brasileiros vive à sombra dos filósofos estrangeiros.
Dessa forma quando perguntamos sobre algum livro que explique sobre algum assunto de filosofia, as respostas são sempre as mesmas ou algo parecido; leia o livro de Bertrand Russell; procure um livro de Schopenhauer; compre o livro “O Mundo de Sophia”… e assim por diante. O que não quer dizer que seja uma má idéia, mas com isso, poucos conhecem sobre a nossa própria filosofia. Pergunto por exemplo: Além de Marilena Chauí e Viviane Mosé que estão sempre na mídia, que outros filósofos brasileiros você conhece?
Não é preciso sustentar o diploma de filosofia para ser filósofo, filosofar é uma propriedade do ser humano, por isso, existem inúmeros filósofos brasileiros que estão aí, nos bares e botequins, nas padarias, nas escolas, na fila ao lado.
Então: Sim! Eles existem! Mas somente poucos possuem força e genialidade para saírem da sombra de seus mestres e filosofar por contra própria.