"Os 'stocks' de dinamite que foram usados para a construção da via - férrea de Gouthard ostentavam uma bandeira negra para anunciar um perigo de morte. É neste sentido muito preciso que nós falamos do novo livro do filósofo Nietzsche como sendo um livro perigoso. Mas este termo não contém a menor crítica ao autor e à sua obra, da mesma forma que essa bandeirola negra não estava lá para criticar o explosivo. Longe de nós ainda a idéia de entregar o pensador solitário aos corvos e rãs da pia batismal, atraindo atenção para o caráter perigoso do seu livro. A dinamite, espiritual como material, pode servir a uma obra muito útil. Não é preciso usá-la com fins criminosos. Mas onde for colocado o 'stock' é melhor dizer claramente: Aqui há dinamite!... Nietzsche é o primeiro a conhecer um novo caminho, tão assustador que sentimos realmente medo quando o vemos seguir, solitário, essa senda até agora não trilhada!...
É com esse artigo que a publicação do "Para além do bem e do mal - PABM" é recebido pela crítica. Mas o que há nesse livro para ser tão temido? É que encontramos em cada uma de suas páginas, uma nova interpretação para a vida e o mundo, uma visão ímpar que fora deixada despercebida pelos grandes filósofos da história. Na medida em que o folheamos, somos apresentados a filosofia de Nietzsche - que foi um grande filósofo do século XIX, que exerceu e ainda exerce grande influência na filosofia.
Poucos são os livros em que neles encontramos algo de tão novo e ao mesmo tempo tão perigoso. Quando lemos um livro de filosofia, somos apresentados a visão do autor sobre certos temas – que pode ser a favor ou contra a nossa visão sobre o mesmo assunto; o que na maioria das vezes acontece quando terminamos de lê-los, é que passamos a ter argumentos, pró ou contra, os temas abordados no livro, portanto, ao deixarmos a leitura, ganhamos apenas argumentos a mais sobre nossas idéias que tínhamos antes da leitura; o que não acontece na leitura de PABM, pois, nesse livro somos apresentados a questionamentos que são anteriores as nossas noções mais primitivas das coisas.
“Para além do bem e o mal” foi escrito como uma espécie de complemento a outro livro dele – Assim falou Zaratustra. Muito diferente da linguagem que encontramos em seu “Zaratustra”, PABM está escrito em uma linguagem – embora tomado por um tom mais crítico e denso – é mais acessível aos leitores, se comparada com a linguagem encontrada no primeiro. Nietzsche considerou esses dois livros como sendo os seus livros mais importantes. Em uma carta a um amigo, ele comenta: Peço-lhe que leia este livro (se bem que ele diz as mesmas coisas que o meu Zaratustra, mas de uma forma diferente, muito diferente)...
Resumo da obra: É uma presunção muito grande de qualquer um em querer resumir uma obra filosófica – principalmente uma tomada por idéias tão “antagônicas” à nossa filosofia mais comumente conhecida. O título mostra o objetivo de Nietzsche: transcender o nosso modo de ser, buscando as mais elevadas realidades e a transvaloração todos os valores que até agora foram tomados como ídolos, fornecendo coragem aos homens em erigir novos valores, voltados para o florescimento e intensificação da vida humana. Até hoje, a filosofia e a humanidade vivem de acordo com a lógica - cartesiana ou aristotélica, tanto faz, ou enfim, de acordo com aquilo que chamamos de razão -, porém, a razão é somente um modo de considerar a existência e a realidade. Ainda a humanidade não transcendeu a razão. É o tema do livro. Quando ele fala em ir além "do bem e do mal", ele quer nos levar a considerar uma modalidade de consciência que observa o mundo sem dar sentido à coisa alguma e sem definir as coisas como boas ou más, mas, apreendendo-as tal como elas, para nós, se revelam diretamente. Ele fala de transcender os valores e não de transcender a razão, porque a razão e a lógica surgem do dar sentido e do criar significados e não o contrário. Assim, a razão está implícita dentro dos valores, ela é somente um valor, um "ídolo", um elemento dentro do universo dos valores. Todo o nosso modo de ser diante da humanidade começa a partir do momento em que criamos valores, ou seja, quando definimos e dizemos o que é bom e o que é mal. Daí surge tudo. Para transcendermos esse nosso modo de ser que nos limita, porque nos tornamos escravos dos conceitos que nós criamos, para sermos melhores e superiores, "para sermos nobres", é preciso que nós - inicialmente - criemos novos valores, novas definições do que é bem e mal, invertendo: o que antes era bom, agora é mau, e vice-versa. Mas isto é só inicialmente; a meta é chegar a ter consciência de que não existe o bem, nem existe o mal, mas, somente experiências e fenômenos.
Para aqueles que queiram se deliciar da leitura desse livro. Disponho aqui o livro em formato PDF.